Reflexões sobre Competência em Informação em tempos de pandemia (04)

08/07/2020 15:29

Neste quarto texto, o autor defende o desenvolvimento da competência em informação como essencial, em tempos de pandemia, para que as pessoas consigam lidar com o volume crescente de informações, de forma crítica e consciente, evitando a desinformação. É um dos textos produzidos por pós-graduandos (mestrandos e doutorandos) da disciplina PCI410043 – Competência em informação, semestre 2020-1. Nesta nova postagem, trazemos a reflexão escrita por

Orlando Vieira de Castro Junior, 

Doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação (PGCIN), da UFSC

Domenico de Masi (2019, p.213) assinala que, enquanto nossos avós padeciam com a falta de informações, atualmente sofremos com o excesso de mensagens. Essa sensação de angústia, causada pela impossibilidade de nos apropriarmos ou mesmo compreendermos a imensa quantidade de informações com a qual somos confrontados diariamente, somente pode ser evitada por meio de uma “sólida cultura”, que permita “selecionar as informações certas e valorizar apenas as que úteis” (MASI, 2019, p.213). Em suas palavras, na verdade, o autor descreve nada mais que um dos aspectos da competência em informação. O sociólogo italiano destaca os jornalistas como exemplo de categoria profissional capaz de traduzir o conhecimento acadêmico em algo inteligível para o leitor comum. Todavia, há que se levar em conta que os meios de comunicação podem assumir, como o próprio autor indica, um poder paralelo capaz de levar à sociedade a uma espécie de ditadura pós-moderna onde as notícias são manipuladas para favorecer grupos de interesse. Nesse mesmo sentido, durante palestra proferida na 10ª Conferência da LILAC, em abril de 2014, Paul Zurkowski (2014) defendeu que a competência em informação pode dar aos cidadãos comuns a capacidade de navegar em meio a um grande volume de informações, com base nas quais podem se habilitar a encontrar soluções acerca de questões essenciais para suas vidas e suas comunidades. Alerta, ainda, para o fato de que quem detém o controle da informação também pode usá-la como instrumento de desinformação, manipulação e opressão. O autor defende a competência em informação como uma forma de empoderamento das pessoas diante dessa ameaça. A história recente do nosso país demonstra que as preocupações de Zurkowski (2014) são pertinentes. Diante do exposto, o desenvolvimento da competência em informação é capaz de prover essa espécie de “sólida cultura” proposta por Masi e ao mesmo tempo empoderar os cidadãos na defesa dos seus melhores interesses democráticos, como argumenta Zurkowski. Dudziak (2003), Almeida Junior e Bortolin (2007) e Wilder (2006) são uníssonos em defender o papel dos profissionais da informação como mediadores no processo de recuperação da informação. De fato, Dudziak já alertava para a importância do papel do bibliotecário como agente educacional e esclareceu que,  “a verdadeira mediação educacional ocorre quando o bibliotecário convence o aprendiz de sua própria competência, incutindo-lhe autoconfiança para continuar o aprendizado, transformando-o em um aprendiz autônomo e independente” (DUDZIAK, 2003, p.32). Dessa forma, entendemos que os profissionais da informação são os atores mais adequados para a importante tarefa de mediação da informação pois, ao contrário dos jornalistas, estão menos sujeitos às determinações dos grupos de interesses que dominam os meios de comunicação de massa. Tal afastamento entre a mediação e a manipulação, como bem alertam Almeida Junior e Bortolin (2007), deve ser um exercício ético diário do profissional da informação. Por fim, defendemos o desenvolvimento da competência em informação como essencial para que as pessoas consigam lidar com todo esse volume crescente de informações, de forma crítica e consciente, possibilitando a recuperação e uso de informação relevante para solução dos seus problemas individuais ou das comunidades em que vivem.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de; BORTOLIN, Sueli. Mediação da Informação e da Leitura. In II Seminário em Ciência da Informação – UEL, Londrina, 2007. Disponível em: < http://eprints.rclis.org/13269/>.  Acesso em 29 mar. 2016.

DUDZIAK, E. A. Information literacy: princípios, filosofia e prática. Ciência da Informação, Brasília/DF, v. 32, n. 1, p. 23-35, jan./abr. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v32n1/15970.pdf. Acesso em: 29 mar. 2020.

MASI, Domenico De. Uma simples revolução. Rio de Janeiro: Sextante, 2019.

WILDER, Gabriela. O museu como visão de mundo e exercício de diversidade. In: Congresso Internacional de Arquivos, Bibliotecas, Centros de Documentação e Museus, 2, jun. 2006, São Paulo, SP. (Painel, 26 jun. 2006 – Organização de conteúdos e identidade cultural – anotações pessoais).

ZURKOWSKY, P. G. Information Literacy and The New Era of Enlightenment. In: 10th ILAC Conference. 2014. Apresentação em vídeo. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8DXnUvseNTs&feature=youtu.be>. Acesso em: 29 mar. 2020.