Reflexões sobre Competência em Informação em tempos de pandemia (03)

26/06/2020 21:22

Este terceiro texto apresenta uma reflexão sobre a competência em informação no cenário de sobrecarga, ansiedade, excesso e falta de informação – desinformação. É um dos textos produzidos por pós-graduandos (mestrandos e doutorandos) da disciplina PCI410043 – Competência em informação, semestre 2020-1. Nesta nova postagem, trazemos a reflexão escrita por

Patrícia S.S. Bertotti, Arquivista, Mestranda PGCIn/UFSC

patricia.bertotti@outlook.com

Suscito esta reflexão com as palavras de Masi (2019, p. 214) “Só uma informação cabal, fluida e exata consegue potencializar as energias de uma sociedade conectando-a entre si.” No entanto, o que vivemos hoje é uma verdadeira torrente de informações onde a desinformação vem de onde deveria vir a informação correta e precisa. Desde a decretação da pandemia praticamente todos os canais de notícias brasileiros estão voltados para este tema, gerando ansiedade na população.   Mas como separar aquilo que é relevante para a prevenção, de todo esse volume de informações que vem sendo repassado à população?  Como a população está aplicando estas informações no dia a dia?  Tudo isso, mais uma vez, vem ao encontro das palavras de Masi (2019, p.214), onde o autor explica que:

“Sem informação, nenhum ser humano pode se desenvolver e nenhum sistema social pode funcionar. Mas, quando a informação se transforma em um bombardeio excessivo como é hoje, o equilíbrio pessoal e o social correm sérios perigos. Aos cidadãos, cabem cultura e experiência para escolher as mensagens certas e descartar as supérfluas. À sociedade, cabe separar o poder da mídia do económico e do político para salvar a democracia.”

Tomemos por exemplo o caso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), objeto de estudo do meu projeto, que conforme noticiado na mídia pela jornalista Thâmara Kaoru em 08 de janeiro de 2020, antes da decretação de pandemia, ter cerca de 2.000.000 (dois milhões) de processos pendentes de análise. Naquele momento já era bastante difícil para a população saber onde e a quem recorrer para ter suas demandas atendidas. Com a decretação da pandemia o que houve com esses 2.000.000 de brasileiros que estavam esperando ter suas demandas contempladas? Desde 2017, quando deu-se início ao Processo de Transformação Digital do INSS, os segurados vem recebendo uma sobrecarga de informações acerca destas mudanças. Com a chegada da pandemia isso se acelerou de tal forma que os segurados não sabem exatamente aonde se dirigir para resolver e terem atendidas suas solicitações, pois decretado o isolamento agências foram fechadas e toda a demanda da população direcionada para o atendimento eletrônico, via internet ou teleatendimento.  Mas é preciso lembrar que é possível automatizar os processos, mas não as pessoas. O INSS vive a Utopia Tecnocrática, conforme descrito por Davenport (1998), pois toda e qualquer informação que circula, em todos os níveis da Instituição, defende o uso maciço da tecnologia como a solução para os seus principais problemas: represamento de processos de reconhecimento de direitos, prevenção de fraudes, eliminação de filas de espera, virtuais ou não, etc. É tanta informação diferente em tão curto espaço de tempo que exigências mínimas solicitadas para a concessão dos benefícios foram de tal forma simplificadas, na tentativa de facilitar o acesso da população em geral, que os riscos aumentam de forma exponencial, abrindo portas para possíveis fraudes e comprometendo a garantia de integridade dos benefícios gerados. Isso mostra a dificuldade de a instituição fazer chegar a informação aos seus usuários de forma clara e concisa, não soube lidar com as profundas mudanças em seus processos de trabalho e, consequentemente, não soube repassar aos usuários a forma correta de adaptação a estas mudanças. Agora, arrebatados pela decretação da pandemia, a situação se agrava e ainda tende a piorar.

Referências

DAVENPORT, T. H. Ecologia da informação: porque só a tecnologia não basta para o sucesso na era da informação. São Paulo: Futura, 1998.

KAORU, T. INSS tem mais de 2 milhões de pedidos de benefícios na fila de espera. 2020. Thâmara Kaoru do UOL. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/01/08/inss-beneficios-parados-analise.htm. Acesso em: 27 mar. 2020.

MASI, D. De. Uma simples revolução. Trabalho, ócio e criatividade. Novos rumos para uma sociedade perdida. Rio de Janeiro: Sextante, 2019. 368 p.